1 em cada 3 trabalhadores da UE está exposto a riscos relacionados com as alterações climáticas, tais como calor extremo, fenómenos meteorológicos extremos ou má qualidade do ar.
Estas informações fazem parte do mais recente inquérito aos trabalhadores Tomar o pulso à SST, 2025: Segurança e saúde no trabalho na era das alterações climáticas e digitais da EU-OSHA, Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho.
O inquérito, realizado telefonicamente entre março e abril de 2025, a mais de 28 000 trabalhadores em todos os Estados-Membro da UE, Islândia, Noruega e (pela primeira vez) Suíça explora as experiências e percepções dos trabalhadores em quatro domínios fundamentais: a utilização de tecnologias digitais para o trabalho, os fatores psicossociais, os riscos relacionados com as alterações climáticas e os resultados em matéria de saúde relacionados com o trabalho, como vimos anteriormente. O inquérito mostra também como os locais de trabalho estão a reagir para salvaguardar a segurança e a saúde dos trabalhadores.
Fonte: EU-OSHA
Alterações climáticas e a segurança e saúde dos trabalhadores
O inquérito revela que um terço dos trabalhadores da UE está exposto a riscos relacionados com as alterações climáticas. Paralelamente, 31 % dos trabalhadores estão preocupados com o impacto dos riscos ambientais na segurança e saúde no trabalho.
Segundo o inquérito realizado, 33 % dos trabalhadores na UE estão expostos a, pelo menos, um fator de risco relacionado com as alterações climáticas, sendo que 20 % referem estar expostos a calor extremo e 19 % a má qualidade do ar. A exposição ao calor é mais elevada nos setores que dependem do trabalho ao ar livre: 35 % dos trabalhadores da agricultura, horticultura, silvicultura ou pesca declaram trabalhar em condições de calor extremo, tal como um em cada quatro trabalhadores da construção e do setor da energia.
Quase um em cada dez trabalhadores refere sintomas ou doenças relacionadas com o calor, como insolação ou tonturas. Além disso, mais de um em cada dez trabalhadores está exposto ao sol intenso durante o trabalho, o que é reconhecido como um fator de risco de cancro.
As diferenças regionais são evidentes, com os trabalhadores do Sul da Europa a registarem a maior exposição, refletindo vagas de calor mais frequentes e degradação ambiental. Embora mais de 50 % dos empregadores tenham introduzido medidas preventivas, como áreas de repouso à sombra ou horários adaptados ao calor, a aplicação é desigual, salientando a necessidade de um planeamento e investimento resilientes às alterações climáticas em todas as indústrias.
Um em cada cinco trabalhadores refere preocupação com a possibilidade do seu emprego e tarefas atuais se alterarem em resultado das medidas introduzidas para prevenir os riscos associados às alterações climáticas. Isto reflete um sentimento crescente de eco-ansiedade ─ o medo ou a angústia causados pelas alterações ambientais e o seu potencial impacto na saúde.
Stress e saúde mental no trabalho: pressão e estigma persistentes
Os problemas de sobrecarga de trabalho continuam a ser generalizados em toda a Europa, uma vez que 44 % dos trabalhadores indicam uma forte pressão de tempo ou sobrecarga de trabalho.
As conclusões apontam igualmente para a persistência do estigma em torno da saúde mental; 48 % dos inquiridos consideram que a divulgação de um problema de saúde mental pode prejudicar a sua carreira (especialmente prevalecente entre os trabalhadores mais jovens e os que desempenham funções menos remuneradas). No entanto, a maioria dos trabalhadores sentir-se-ia confortável a discutir a sua saúde mental com um superior ou gestor, o que sugere que o estigma que envolve a saúde mental está a diminuir.
O acesso ao apoio também varia, com 66 % dos trabalhadores das grandes empresas a terem acesso a informação e formação sobre stress e bem-estar, em comparação com apenas 42 % nas microempresas. De um modo geral, os países do norte da Europa e Europa ocidental apresentam um melhor apoio e abordagens mais proativas, enquanto noutros países só agora se começa a abordar a saúde mental de forma estruturada.
Recordamos que, em Portugal o acesso a aconselhamento ou apoio psicológico (24%) fica ainda bastante aquém dos países com índice mais elevado, como a Finlândia (74%).
Digitalização e autonomia do local de trabalho
Nove em cada dez trabalhadores na UE utilizam pelo menos uma tecnologia digital nas suas funções e cerca de um em cada três utiliza ferramentas avançadas, como sistemas alimentados por IA, dispositivos usáveis ou robôs.
25 % dos trabalhadores afirmam que são utilizadas tecnologias digitais para monitorizar o seu trabalho e comportamento e 27 % referem que as tarefas são atribuídas automaticamente através desses sistemas. Estas práticas levantam questões sobre a utilização de dados, a confiança dos trabalhadores e o risco de controlo excessivo e de sobre-gestão. Estão também associadas ao stress e a problemas de saúde mental.
Além disso, a digitalização pode alterar significativamente as funções profissionais. Alguns trabalhadores sentem-se isolados, com menos oportunidades para utilizar as suas competências ou tomar decisões sobre o seu trabalho. Este facto sublinha a necessidade de uma maior transparência, diálogo social e participação dos trabalhadores nas decisões sobre a adoção de tecnologias.
William Cockburn, diretor executivo da EU-OSHA, declarou:
«Estes resultados mostram que os trabalhadores em toda a Europa enfrentam desafios complexos e em evolução. Quase três em cada dez pessoas enfrentam problemas de stress, depressão ou ansiedade relacionados com o trabalho. Cerca de um terço receia que as alterações climáticas possam pôr em risco a sua segurança e saúde. Desde a adaptação dos locais de trabalho aos efeitos físicos das alterações climáticas, à redução do estigma em torno da saúde mental e à garantia de que as ferramentas digitais são introduzidas de forma ética ─ a proteção da segurança, da saúde e da dignidade da força de trabalho da Europa deve continuar a ser uma prioridade máxima. (…)».
O inquérito “Tomar o pulso à SST, 2025” da EU‑OSHA funciona assim como um verdadeiro barómetro da segurança e saúde no trabalho na Europa, revelando quais são os riscos mais comuns e emergentes nos locais de trabalho, permitindo que governos, empresas e trabalhadores tomem decisões informadas. Além disso, o estudo ajuda a identificar boas práticas entre países, orienta políticas públicas e estratégias de prevenção, e sensibiliza a sociedade para a importância de criar ambientes de trabalho mais seguros, saudáveis e resilientes.
Na Clínica VeraCruz, estamos comprometidos em promover a saúde e o bem-estar dos trabalhadores e mantemo-nos atentos a riscos emergentes na esfera da Saúde e Segurança no Trabalho.
Relembramos a importância de avaliar e mitigar os riscos relacionados com o stress térmico.
Releia o nosso artigo Stress Térmico: Riscos e medidas de prevenção.
Recursos para a ação
Para apoiar a tomada de decisões com base em dados concretos, a EU-OSHA lançou um pacote de recursos destinados a transformar os dados em ação:
- Infografias a nível da UE que abrangem as alterações climáticas, a saúde mental e a digitalização
- Fichas informativas por país sobre as alterações climáticas, bem como sobre os riscos psicossociais e a saúde mental de cada país participante, que proporcionam uma análise mais pormenorizada dos dados nacionais e das tendências setoriais
- Um relatório completo e um resumo , que destacam os principais desafios e oportunidades em toda a Europa
Fichas informativas – Portugal:
Alterações climáticas e saúde mental
Tecnologias digitais
Mais informações sobre Tomar o pulso à SST, 2025